O Circo de Horrores no Oriente Médio

Este será um artigo um tanto diferente dos que costumo escrever aqui: mais direto e, ao mesmo tempo, atenuado, pois trata de um assunto mais triste e sério.
De acordo com a Associated Press, mais de 238 civis inocentes morreram em decorrência da escalada deste terrível conflito, enquanto escrevo este artigo.
Dito isso, vamos direto ao ponto, sem as firulas e os panos passados que tanto vemos por aí quando o assunto é o Oriente Médio. A situação envolvendo Israel, Palestina e Irã é um daqueles exemplos clássicos de como os Estados, em sua busca incessante por poder e em nome de “interesses nacionais” (leia-se: interesses da elite política e militar), esmagam os direitos e as vidas dos indivíduos. E não, meu caro leitor que já está coçando para me rotular, isso não é tomar partido. É constatar o óbvio sob uma ótica libertária: a guerra é a saúde do Estado e o inferno do indivíduo.
Comecemos por Israel e sua atuação na Palestina. A narrativa de “única democracia do Oriente Médio” ou de “eterna autodefesa” não pode, e não deve, servir como um cheque em branco para justificar o que temos visto há décadas. A ocupação de territórios, a expansão de assentamentos (que nada mais são do que uma violação flagrante do direito de propriedade de quem lá estava antes), os bloqueios que transformam Gaza numa prisão a céu aberto, as respostas militares desproporcionais que resultam em incontáveis mortes de civis, incluindo crianças… Isso não é “autodefesa”; isso é agressão estatal continuada.
A lógica libertária é simples: cada indivíduo tem direito à sua vida, liberdade e propriedade. Quando o Estado de Israel, através de suas políticas e de sua força militar, sistematicamente viola esses direitos de indivíduos palestinos, ele está agindo como qualquer outro Estado agressor. Não importa a justificativa histórica ou religiosa que se queira dar. A violação do Princípio da Não Agressão é clara. As famílias palestinas despojadas de suas terras, as crianças que crescem sob bombardeios e medo, os jovens sem perspectiva devido ao cerco… são vítimas de uma política estatal, não de uma “guerra justa”.
Agora, sobre o Irã. E aqui, que fique CLARÍSSIMO para os desatentos ou mal-intencionados: o regime teocrático dos Aiatolás é uma abominação. Um Estado que impõe uma religião à força, que oprime mulheres, que persegue minorias, que enforca homossexuais em praça pública, que não tolera a mínima dissidência, que financia grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah (que, por sua vez, também são máquinas de moer liberdades individuais), merece todo o nosso repúdio. A luta do povo iraniano por liberdade contra essa tirania é legítima e inspiradora. A ameaça nuclear iraniana, nas mãos de um regime tão despótico e messiânico, é, sim, motivo de preocupação global.
Dito isso, as ações – ou ameaças e operações secretas – de Israel contra o Irã (sejam assassinatos de cientistas, ciberataques ou bombardeios a instalações) também se enquadram na categoria de agressão estatal. Lançar ataques “preventivos” é um eufemismo para iniciar um conflito. E quem paga o pato? Os indivíduos, de ambos os lados. Uma guerra aberta entre Israel e Irã seria uma catástrofe humanitária e econômica de proporções épicas, arrastando toda a região (e potencialmente o mundo) para um abismo de violência e instabilidade.
E aqui reside o X da questão: condenar as ações de Israel na Palestina e suas provocações contra o Irã não significa, nem de longe, apoiar o regime iraniano ou os grupos terroristas que ele patrocina. É possível, e necessário, repudiar AMBOS os lados quando ambos recorrem à agressão e à violação de direitos individuais. A mentalidade tribalista de “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” é uma armadilha perigosa que só serve aos interesses dos Estados e dos senhores da guerra.
O que se perde nesse xadrez geopolítico macabro são os indivíduos. O cidadão iraniano comum que sonha com liberdade e prosperidade não é beneficiado pela retórica belicista de seu governo, nem pelos ataques externos. O cidadão palestino que só quer viver em paz em sua terra não é beneficiado pela violência de grupos como o Hamas, nem pela opressão israelense. E o cidadão israelense comum, que também anseia por segurança, é constantemente colocado em risco por políticas de seu próprio governo que perpetuam o ciclo de violência e retaliação.
A guerra, qualquer guerra, é fundamentalmente anti-libertária. É a suspensão dos direitos individuais em nome de uma abstração coletiva chamada “nação” ou “Estado”. É o confisco da propriedade (via impostos ou destruição), a restrição da liberdade (convocação militar, censura) e, no limite, a expropriação da própria vida.
A solução para o Oriente Médio – e para qualquer conflito – não virá de mais bombas, mais ocupação, mais sanções que penalizam o povo, ou mais poder para Estados já inchados e autoritários. Virá do reconhecimento dos direitos individuais de todos, da busca por soluções pacíficas, do fim da agressão estatal (venha de onde vier) e da coragem de denunciar a tirania, seja ela a de um regime teocrático como o do Irã, seja ela a praticada sob o verniz de uma democracia que viola direitos em nome da “segurança”.
Em suma: não à ocupação e às violações de direitos na Palestina. Não às agressões e provocações que podem levar a uma guerra devastadora com o Irã. E um sonoro e inequívoco NÃO ao regime assassino e liberticida de Teerã. O inimigo comum de todos os povos amantes da liberdade é o Estado agressor, seja qual for a bandeira que ele hasteie. A paz só será possível com mais liberdade individual e menos poder estatal. O resto é demagogia e carnificina.
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